Férias na praia com a Cáritas de Leiria
“Ao início, muitos choram por não quererem ficar. No fim, choram por não quererem partir”: esta é uma das imagens da Colónia Balnear da Cáritas de Leiria-Fátima, segundo o seu coordenador, Nelson Costa.
A iniciativa, dirigida a crianças e adolescentes, começou na segunda semana de Julho e termina na primeira de Setembro, com turnos de 80 participantes, distribuídos equitativamente por ambos os sexos.
Parte dos custos é comparticipado pelas Conferências de São Vicente de Paulo, que asseguram o pagamento das inscrições das crianças mais carenciadas, bem como por grupos sócio-caritativos e pessoas a título individual, que, de acordo com o coordenador, “são fundamentais para o funcionamento da Colónia”.
Cada período de férias para crianças dos 6 aos 12 anos tem a duração de dez dias, enquanto que o último, reservado aos jovens de 13 a 15 anos, prolonga-se por uma semana.
“São dias de muita adrenalina, em que eles nunca param e estão sempre em constante convívio e interacção com os outros”, salienta Nelson Costa, de 24 anos, em entrevista à Agência ECCLESIA.
A distância máxima entre o Oceano Atlântico e a paróquia mais oriental da Diocese de Leiria-Fátima não ultrapassa os 50 km, mas algumas crianças só vêem o mar pela primeira vez quando participam nesta Colónia de Férias, que começou há mais de trinta anos.
“Recordo-me que nos apareceram gémeos cujos olhos até brilharam quando viram o mar pela primeira vez. E eles viviam em Pataias”, a 15 km do mar, diz o responsável, que trabalha a tempo inteiro na Cáritas de Leiria-Fátima.
“Damos sempre prioridade a quem não têm oportunidade de vir à praia e que vive em ambientes mais disfuncionais”, esclarece Nelson Costa, que admite nem sempre ser possível ser justo na selecção dos participantes.
Este ano, cerca de 160 crianças e adolescentes não conseguiram vaga na Colónia, o que para o responsável “é sinal de que o trabalho dos monitores é bem feito, com amor à camisola”.
A Colónia realiza-se em Pedrógão, concelho de Leiria, numa casa voltada para o mar, pelo que os dias são quase sempre preenchidos pela praia, embora também estejam previstas actividades e jogos no pinhal.
Para manter o interesse das crianças é criada uma história em constante desenvolvimento, estratégia que possibilita o estabelecimento de objectivos a cumprir pelos dez grupos de cada turno, cada qual formado por oito crianças e um animador.
O ambiente de “alegria, descontracção, brincadeira e carinho”, onde a “única tarefa das crianças é brincar e ajudar os monitores a fazer as camas”, culmina com a apresentação diária de uma peça de teatro, explica Nelson Costa.
Além do divertimento, o relacionamento com os companheiros proporciona o crescimento das “competências sociais”.
Os 16 jovens que acompanham os participantes encarregam-se de todos os serviços da Colónia, desde a cozinha à vigilância das crianças, passando pela preparação de jogos e dramatizações.
Nelson Costa, que aos 16 anos teve a sua primeira experiência na Colónia como animador, assegura que é fácil encontrar voluntários, que de bom grado oferecem duas semanas das suas férias, durante as quais se “divertem a trabalhar para as crianças”.
“É aqui que os monitores descobrem potencialidades que antes desconheciam”, salienta o coordenador, acrescentando que eles também são motivados pela oportunidade de “poderem dar alguma coisa de si”, recebendo em troca “carinho e mimos de onde menos esperam, incluindo por vezes dos miúdos mais reguilas”.
Antes de serem aceites na Colónia, os voluntários têm de participar em pelo menos uma das formações organizadas anualmente pela Cáritas diocesana, encontros que são igualmente aproveitados para avaliar se os jovens têm perfil para a tarefa.
O responsável lembra que a Cáritas é uma instituição católica, pelo que esta identidade torna-se presente nas actividades diárias e nos valores que se procuram transmitir.
“Os monitores são aconselhados a fazerem uma pequena oração da manhã, quando as crianças se levantam. À noite, depois do teatro, fazemos também uma oração de dois ou três minutos. E no Sábado há sempre eucaristia”, assinala Nelson Costa.
A hora da despedida é a mais triste: “Na última noite, quando passamos as fotografias, muitos miúdos choram por não quererem partir” refere o responsável, que lembra um episódio ocorrido em 2009, quando uma criança, já na presença da mãe, se abraçou ao animador dizendo-lhe que não se queria ir embora.
“É uma boa sensação saber que o trabalho feito pelos monitores é recompensado por estas crianças”, afirma o coordenador da Colónia, que sublinha a preocupação dos monitores em não estimular a continuidade das relações entre eles e os participantes.
“Durante dez dias – afirma Nelson Costa – temos de nos preocupar em proporcionar umas férias espectaculares a estas crianças. E para o bem delas, é importante que os laços criados não se prolonguem pelo resto do ano porque os monitores não têm capacidade de resposta para os gritos de atenção que muitas vezes elas lançam”.
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