Colónia da Caritas: um ambiente de festa permanente
É um dos momentos mais aguardados do ano para muitas crianças, a chegada do primeiro dia da colónia de férias que a Cáritas Diocesana de Leiria organiza na sua casa na praia do Pedrógão, mais conhecida por eles como “Casa Amarela”.
E foi 16 de julho esse dia, em que se iniciou o primeiro dos quatro turnos programados anualmente, com 80 crianças a baterem à porta e a serem recebidos pelo grupo de 15 monitores voluntários. “Para muitos deles, é a única oportunidade que têm de vir à praia, de fazer férias, de experimentar ambientes novos e mais alegres”, refere Nelson Costa, coordenador destas colónias.
O ambiente à chegada é de festa, apesar de algumas lágrimas já saudosas dos pais. “Nota-se que, cada vez mais, há uma preocupação dos pais com as crianças, não vão apenas ‘despejá-los’, como acontecia por vezes no passado”, afirma Nelson Costa. Sinais da evolução dos tempos, talvez, mas nem por isso sinal de menor necessidade. “Das 290 crianças que recebemos anualmente, a grande maioria são selecionadas em agregados familiares dos dois primeiros escalões do IRS, que passam mesmo por dificuldades para poder oferecer umas férias aos filhos”, explica o coordenador, referindo que “poderá não ser o sistema de triagem mais justo nalguns casos, mas é o possível para garantir algum equilíbrio”. Desses, cerca de duas dezenas vêm diretamente de instituições de acolhimento, como o Lar de Santa Isabel, de Leiria, a Fundação Arca da Aliança, de Fátima, a Casa Dr. Alves, de Ourém, ou o Centro de Acolhimento da Ribeira do Fárrio.
Mas o principal é o que se passa durante os dez dias seguintes. A amizade dentro daquela grande casa de férias, a ajuda de todos nas tarefas domésticas, a correria para a praia, os serões de convívio, as pequenas tropelias partilhadas entre miúdos e graúdos, em resumo, a festa. “Os miúdos são fantásticos: fazem a festa, atiram os foguetes e correm a apanhar as canas!”, sintetiza Nelson Costa, convicto de que “este é um trabalho importantíssimo da Caritas de Leiria-Fátima”.
Por isso, no dia 26, o ambiente inverteu-se… festa para os pais, ao voltarem a rever os seus filhos, e algumas lágrimas já saudosas nos que partem.
Luís Miguel Ferraz
Testemunho de uma monitora do 2.º turno
Viver a Colónia é “voar com as crianças”
Uallabby é agora a Ilha das Cores. Aqui, na Casa Amarela, mudam-se os turnos, mas não se mudam as vontades, pois desejamos sempre que o herói cumpra a sua missão e que o vilão seja derrotado, mantendo a ordem natural do Universo. A cada turno, é contada uma nova história, é desvendado um novo imaginário, ao sabor das ideias, mas, no fim, perseveram os valores da fraternidade, do respeito da justiça.
Estamos no início do segundo turno da Colónia Balnear da Cáritas de Leiria, que tem lugar na Praia do Pedrógão, na Casa Amarela, por onde passarão 290 crianças e adolescentes e mais de 50 monitores ao longo do verão.
A missão que nos foi confiada enquanto monitores foi a de proporcionar às crianças e adolescentes um período de férias que promova o seu bem-estar integral. Por outras palavras, cultivamos sorrisos, fazemo-los desenharem-se nos lábios das crianças em momentos mágicos e indizíveis, e regressamos nós mesmos à nossa infância. Cumprir tão nobre missão é um desafio, pois temos de nos “fazer sentir” do primeiro ao último dia, trilhando um caminho sempre diferente e imprevisível. Não há uma receita nem uma fórmula, há tão-somente espontaneidade, disponibilidade, compreensão e uma grande vontade de dar mais do que se tem, que muitas vezes nem se sabia que se tinha.
O turno ainda agora começou e sabemos que vamos sentir-nos exaustos dentro de dias, mas nem por isso baixamos os braços. Somos voluntários e, como tal, sabemos que daqui nada mais podemos tirar senão os sorrisos e gargalhadas das crianças, de um valor inestimável. Fomos nós mesmos que escolhemos viver a colónia durante estes dias, e digo viver, não fazer, colónia. “A maior parte das gaivotas não se quer incomodar a aprender mais do que os rudimentos do voo, como ir da costa à comida e voltar. Para a maior parte das gaivotas, o que importa não é saber voar, mas comer. Porém, para esta gaivota, o mais importante não era comer, mas sim voar.“ – talvez também nós não sejamos como a maior parte das gaivotas, queremos voar bem alto, queremos estar com as crianças e a todas elas dar asas para voarmos juntos. Não ficamos em terra, num porto seguro, aventuramo-nos.
Se a alma não é pequena (a de quem passa pela Casa Amarela), esperamos que a aventura valha a pena e que, de facto, consigamos fazer deste o melhor período de férias das crianças que recebemos.
Sandra Maurício
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