Seminário: Cidadania ativa, fé comprometida
O olhar crítico de quem lá esteve
Estando a comemorar, em 2013, o Ano Europeu dos Cidadãos e o Ano da Fé, a Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima promoveu, no passado dia 20 de março, no Teatro Miguel Franco, em Leiria, um seminário subordinado ao tema “Cidadania Ativa, Fé Comprometida – Novos paradigmas e desafios”.
O tema, por si só, já era prometedor, numa época em que os cidadãos e, de um modo especial, os cristãos, são chamados à pró-atividade, a ser criativos, a sair do comodismo a dar um pouco de si para o bem-estar dos outros; porque é isso, no nosso entender que é ser cristão; e nada mais oportuno que abordar o tema quando celebramos os 50 anos do II Concílio do Vaticano a que em boa hora o bom Papa João XXIII deu início mas que ainda não foi compreendido e, talvez por isso, não vivido, por um grande número dos que se dizem cristãos. Outra feliz coincidência, foi a recente eleição do Papa Francisco que, logo de início cativou a todos com o seu sorriso e simplicidade. Vamos sabendo, pelos meios de comunicação social que não se trata apenas de aparência mas de vivência de verdadeira fé comprometida com a igreja dos pobres e dos que mais sofrem.
Voltando ao Seminário, não vamos pronunciar-nos sobre a sessão de abertura em que usaram da palavra o Presidente da Cáritas Diocesana de Leiria, Dr. Júlio Martins, o presidente da Cáritas Portuguesa, Dr. Eugénio Fonseca, o Vereador Dr. Gonçalo Lopes, em representação do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Leiria e o Sr. D. António Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima que tiveram intervenções interessantes e muito oportunas mas nessa altura estava a comunicação social e, no mesmo dia, já se podiam ler e ouvir as respetivas intervenções nas redes sociais.
O painel da manhã, era prometedor pelo conhecimento que tínhamos dos oradores e da sua prática no “terreno”. Cristãos comprometidos e cidadãos ativos na igreja e na sociedade civil: O Prof. Doutor Manuel Braga da Cruz e a Dra. Margarida Neto. Foram claros e abordaram temas muito atuais e de importância para reflexão: qualquer um daria assunto para um seminário: Educação, uma expressão de cidadania (oh, como é atual e importante o debate á volta deste tema! ) e Cidadania e família que é não diremos complementar do primeiro mas precisamente o que lhe dá consistência.
O painel da tarde suscitou-nos mais curiosidade, não só pelos temas mas pela sua originalidade: Cidadania em contexto laboral com o testemunho em primeira pessoa do Dr. António Faria – como é que, nos tempos que vivemos, em que sobra mercadoria, faltam clientes e não há dinheiro para honrar os compromissos fiscais, se consegue ter uma equipa de colaboradores responsáveis, com salários justos e pagos ao fim do mês tendo sempre como principal preocupação as pessoas dos trabalhadores? O compromisso terá, certamente, de ser de toda a equipa, patrões e empregados, em que o bem comum é o principal desafio para todos.
Cidadania fora de portas foi outra experiência relatada na primeira pessoa pela jovem Dra. Vanessa Neves que, sem qualquer apoio estatal, nem de cá, nem de lá,esteve vários meses no Nordeste brasileiro, por vontade própria, como técnica de serviço social, a fazer um estágio a trabalhar com meninos de rua que, se desaparecerem ou morrerem ninguém virá reclamá-los porque nem sequer estão registados e, por isso, apenas têm como companhia o seu grupo, como alimento o que trazem das lixeiras e como oásis de abrigo os serviços de voluntariado e também alguns estatais, é preciso dizê-lo, que lhe vão tentando mostrar que é possível ter esperança.
Finalmente, Cidadania, uma expressão de juventude, foi o relato de uma experiência fabulosa da Dra.Marine Antunes, uma jovem que tendo sofrido de cancro aos 13 anos, resolveu dar a volta por cima, fazer um curso na área da Comunicação Social, criar um projeto denominado “Cancro com Humor” onde relata humoristicamente a experiência de cancro dando dicas e exemplos a atuais e antigos doentes. Faz escrita criativa, poesia, letras musicais, crónicas, romances e alimenta o sonho de poder publicar um livro e viver da escrita. Sem esquecer todos os outros, para ti, Marine, que nos deixaste á beira da lágrima no olho pelo teu exemplo de cidadã alegre e comprometida, o nosso obrigada.
Finalmente, o Padre Dr. Manuel Armindo Janeiro que, apesar da sua vida extremamente ocupada conseguiu acompanhar todos os trabalhos (felizmente para ele, estamos certos), encerrou a sessão fazendo uma síntese das várias abordagens feitas ao longo do dia.
Possibilitar a participação gratuita num seminário com esta qualidade, é evidente que só foi possível graças aos apoios institucionais, das empresas que ofereceram os pequenos lanches da manhã e da tarde e, é claro à generosidade de todos os colaboradores e oradores. A cidadania também passa por estes gestos.
E depois de participar num dia como este, com o recentemente eleito papa Francisco, apesar da crise que a todos nos afeta e deprime (a chuva que teima em cair também não ajuda), fica-nos a certeza que, como dizia Baden Powell, nosso modelo, entre outros, deixaremos este mundo um pouco melhor do que o encontrámos.
Uma participante,
Filomena Silva Martins
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